domingo, 2 de junho de 2013

Eduardo Campos não mergulhou, foi soterrado

por Edilson Silva - 23/05/2013


No auge de sua verborragia anti-Dilma Rousseff e de seu tour nacional como pré-candidato à presidência da República, publicamos opinião sobre o que chamamos de cavalo de pau no discurso do governador Eduardo Campos, o seu desembarque veloz do condomínio de forças que governa o país.
 
O governador viu no lançamento da presidente Dilma à sua reeleição, pelo ex-presidente Lula, a deixa para fazer das suas traquinagens, no estilo que fez com o PT em Pernambuco. A tréplica do PT e da presidente Dilma foi tal que o presidente do PSB fez um périplo forçado, como que lançado por uma catapulta ao seu ponto de origem, e com arranhões profundos no gibão.
 
Eduardo Campos viu o “seu” PSD fugir-lhe ligeiro de algibeira. Viu empresários amigos sucumbirem a “argumentos” mais polpudos e irem ao PMDB. Viu o PMDB mudar de cor em Pernambuco, com o prefeito de Petrolina, Julio Lóssio, afiando os talheres para um banquete inesperado: uma possível candidatura ao governo. Viu assim seu acordo com o senador Jarbas Vasconcelos indo para o vinagre. Viu a imprensa “do sul” chafurdando – e achando, o lixo debaixo do tapete de seu governo, e achará muito mais se mais procurar.
 
Talvez o mais dramático: viu seu PSB conflagrado internamente, com um ministro com pés firmes do lado de lá, um Ciro Gomes sem cerimônia a lhe chicotear, num incêndio que começou em Pernambuco e no Ceará, mas que se espalhou rapidamente para o Espírito Santo, Amapá, governados pelo PSB, e para várias prefeituras. Diante deste quadro, natural o afastamento do ex-governador José Serra, o desentusiasmo do novo MD – fusão do PPS com o PMN, assim como a presença do DEM – antes tão enamorado com o PSB, no lançamento de Aécio Neves à presidência da República, na convenção do PSDB que lhe confiou a presidência do partido há poucos dias. Da mão cheia de anéis, Eduardo Campos passou a ver os dedos nus e já com certa dormência.
 
O resultado é que do cavalo-de-pau do governador sobrou de pé apenas o cavalo. E não parece que o governador esteja montado nele. A imprensa e os colunistas políticos falam em mergulho do governador, mas na verdade ele foi soterrado, não por totalitarismos de quem quer que seja, mas pela ação natural do modus operandi da realpolitik, tão bem jogada pelo governador aqui em Pernambuco.
 
Este processo, contudo, já serviu para jogar luz sobre questões importantes. O governo do PT/Dilma deixa pouca margem de oposição à sua direita, mesmo por dentro dele. Já estão contemplados e acomodados com boa margem de segurança no poder os interesses materiais do setor financeiro, do latifúndio, da grande indústria, da velha política oligárquica. O espaço que sobra à direita é essencialmente ideológico, como a pauta dos direitos humanos, mas que não é suficiente para bancar uma ruptura que seja competitiva, mas apenas para se fazer uma diferenciação ideológica, um fundamentalismo de direita – como bem representa o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e para isto já se tem a oposição do PSDB/DEM.
 
Para começar a se livrar dos escombros que lhe soterram, o governador precisará de uma ajudinha externa: da economia. Se esta não tiver um abalo em 2013, restará ao governador acomodar-se em Pernambuco ou convencer seu partido que é hora de correr os riscos de disputar uma eleição presidencial, com um discurso de ruptura ainda mais pela direita com o PT, e buscar aliançar-se de vez num segundo turno com o PSDB e o DEM para tocar um projeto liberal mais ortodoxo no plano econômico e com fortes concessões às pressões medievais nas questões dos direitos humanos.
 

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